Amores imperfeitos          

      “Não adianta mais... chega de sofrer, chega de chorar...”

Meirinho

            Ela sabia que ele tinha muitos defeitos, mas casou-se com ele; ele sabia que ela não era perfeita, mas casou-se com ela. Bastou algum tempo juntos e começaram a descobrir mais e mais defeitos um do outro. Ela chegou a pensar que havia cometido um engano; ele chegou a fazer contas para ver se daria para pagar a pensão sem cair seu padrão de vida, caso decidisse se separar.

 “O amor é lindo quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser”, diz Martha Medeiros. Enquanto os casais (casados ou não) olharem para o que não gostam no outro, perderão as chances de desfrutarem de uma vida repleta de felicidade. Ajustar as diferenças significa reconhecer as próprias imperfeições.

Uma revelação curiosa nos relacionamentos conjugais: aquilo que geralmente foi o principal motivo da atração no início do relacionamento, pode se tornar o principal motivo das desavenças e até mesmo da separação. Junior e Cora são personagens fictícios do livro virtual que escrevo atualmente, com a participação de leitores no meu site. Tais personagens retratam exatamente esta controvérsia no relacionamento a dois. Junior se apaixona por Cora por sua intensa, expressiva e declarada sensualidade. No entanto, ele não sabe se conduzir neste relacionamento, chegando até a acusá-la por ser exatamente como é. Ela fica confusa quando percebe que aquilo que ele admira nela transforma-se em defeito; para prosseguir neste relacionamento, Cora tem que deixar de ser como é ou ele tem que deixar de se incomodar com o jeito dela de ser. Será que ela vai abrir mão de si? Por quanto tempo?

Devemos neutralizar aspectos de nossa personalidade para manter nossos relacionamentos? Até que ponto vale a pena? A tolerância está relacionada com a matemática financeira orçamentária ou é produto de uma decisão consciente de sonhar sonhos possíveis?

“O amor pode te fazer feliz, mas às vezes também pode te ferir”, prossegue M. Medeiros. Amor se aprende amando. E dói quando erramos na dosagem, na expectativa, nos planos que fizemos muitas vezes sem compartilhar, incluindo o outro que nada sabe sobre o que sonhamos silenciosamente. “Vá para o inferno com o seu amor”, é um desabafo na antiga canção do compositor Meirinho.

Procurar o amor e encontrá-lo é um milagre possível quando nos permitirmos que os sinos toquem em nossos corações diante de pessoas belas, magníficas da forma como as enxergamos; quando nos permitirmos que as luzes se ascendam e que os anjos façam coro entoando hinos de glória ao ser humano que nos alegra com a sua singela e realista existência. Cubra-se o Universo com a ousadia daqueles que se permitem amores assim tão imperfeitos!  

Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga graduada pela PUCCAMP, especialista clínica em Análise Transacional pela ALAT e UNAT-Brasil, consultora de empresas, palestrante e escritora