A cuca vem pegar 

            Pais bons o bastante, são aqueles que pontuam seus filhos, sem poupá-los de ouvirem o que nenhuma outra pessoa diria, por uma série de razões. O constrangimento em falar o que não é agradável ouvir, é justificado pelo afeto, que impulsiona aqueles que aprenderam a exercitar o amor autêntico e incondicional, a fazer confrontações. A fórmula ideal consiste em expressar os conteúdos através de uma atitude carinhosa, realista e nutritiva. Ser firme e dócil corresponde inclusive ao modelo da nova liderança. A ausência de firmeza é entendida pela criança como desamor.

As transformações de valores, as recompensas imediatas e condicionais, estabelecem padrões comportamentais que demonstram ausência de compreensão, e consequentemente ausência de tolerância diante da demonstração incondicional do afeto, através de ações educadoras. É doloroso, porém suportável, receber informações que contrariam o modus operandi de cada um. Contudo, educar também é frustrar.

“Dorme nenê, que a Cuca vem pegar”, é a antiga canção de ninar, que as crianças ouvem logo ao nascer. Seria um convite ao bom comportamento? Seria uma ameaça de punição se não fizer o que tem que ser feito? Bom seria que as crianças não temessem a Cuca, mas a respeitassem. O mesmo para o “papai (que) foi na roça e a mamãe (que) volta já”. As figuras de autoridade contribuem para a formação da moralidade, dos conceitos, tradições e valores, que moldam a personalidade e determinam os rumos que tomamos na vida.

Recentemente, André (nome fictício) foi demitido de seu cargo, no início da sua carreira. Ele me disse que se arrependeu muito de não ter levado a sério os feedbacks que recebeu para reformular suas atitudes. “Fui cabeçudo” – disse ele com os olhos vermelhos, lamentando pela perda do emprego - “Achei que eu poderia tratar a empresa como trato meus pais: nem ligo para o que eles dizem e nada acontece”.

Meu caro André, você tem a vida toda pela frente e parece que já aprendeu a lição. Siga adiante, construa sua carreira atento aos sinais das mudanças. Faça sua auto-avaliação diariamente e tenha a humildade de reconhecer suas limitações. Coloque uma pitada de elegância no seu comportamento, recebendo os feedbacks e refletindo sobre eles. Porque muito mais doloroso que a Cuca pegar, é o tal de Bicho Papão, em cima do telhado – este sim é terrível e muitos o conhecem com outro nome: Desemprego!

Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga graduada pela PUCCAMP, especialista clínica em Análise Transacional pela ALAT e UNAT-Brasil, consultora de empresas, palestrante e escritora