PROFESSOR ESPERTO

Dizem que esta história é real e que aconteceu num curso de Engenharia de uma Universidade, tornando-se “lenda”: quatro alunos resolveram viajar juntos no final de semana, véspera de uma prova. Não estudaram e como o final de semana estava muito bom, faltaram, não fizeram a prova na segunda-feira; na terça-feira dirigiram-se ao professor dizendo: - Professor! Fomos viajar, o pneu furou, não conseguimos consertá-lo, tivemos mil problemas e por conta disso, todos nós atrasamos, mas gostaríamos de fazer a prova!
O professor, muito compreensivo, disse: - Claro, vocês podem fazer a prova hoje à tarde, após o almoço. E assim foi feito. Os rapazes foram para casa e racharam de tanto estudar, na medida do possível. Na hora da prova, o professor colocou cada aluno em uma sala diferente, sem qualquer meio de comunicação com o mundo externo e entregou a prova.
Primeira questão da prova valendo 0.5 pontos: Escreva algo sobre a Lei de Ohm.
Os quatro ficaram contentes, pois haviam lido algo sobre o assunto. Pensaram que a prova seria muito fácil e que haviam conseguido se dar bem.
Segunda questão e última, valendo 9.5 pontos: Qual pneu furou?
A moral da história poderia ser: mentira tem perna curta. Considero relevante que as pessoas desqualificam a percepção do outro; sentem-se espertas e não consideram a possibilidade de que suas justificativas, desculpas, explicações são ouvidas sem necessariamente serem acreditadas. Pais que fazem “vista grossa” para as mentiras e omissões que os filhos ainda pequenos, costumam contar e fazer, e ainda reproduzem para os outros, (“ai que gracinha, olha como são espertas estas crianças de hoje em dia!”) colaboram para que os filhos cresçam apoiados nesta distorção: enganar é ser esperto e isso é OK.
Um dos valores mais importantes na carreira de um profissional, em qualquer que seja a sua função, do mais alto executivo ao mais simples colaborador, é a sua idoneidade, seu caráter, sua conduta transparente, que vai gerar confiança nos relacionamentos. Iludidos por recompensas imediatistas, as pessoas se adentram em situações constrangedoras e deixam a marca que dificilmente se apagará da mente daqueles que foram envolvidos nas suas pseudoespertezas.
Sim, o mundo é dos espertos! É de pessoas assim espertas, como este professor, que deu aos alunos uma lição muito mais importante do que todas as aulas do curso de engenharia.
Não devemos, portanto, subestimar a capacidade das pessoas em perceber os atalhos construídos na comunicação, denominados trapaças pelo psiquiatra Eric Berne. Mais cedo ou mais tarde, as trapaças são reveladas e costumam causar decepções e muitos transtornos nos relacionamentos profissionais e pessoais.


Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga clínica e organizacional, graduada pela PUCCAMP, consultora de empresas, palestrante e escritora