DIAMANTES

“Ele é tão pobre, mas tão pobre, que só tem dinheiro”
Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato

Um pescador chega muito cedo à beira do rio. Enquanto espera o raiar da alvorada, tendo encontrado ao seu lado um saco de pedras, para passar o tempo, começa a jogá-las nas águas escuras do rio. Quando está prestes a atirar a última pedra, o primeiro raio de sol da vigília ilumina a sua visão. O pescador terrificado constata que tem um grande diamante na mão!
Os consultores empresariais Jair Moggi e Daniel Burkhard afirmam que os verdadeiros líderes se perguntam sempre qual é seu papel no mundo e se são mobilizados para a verdade, a bondade e a beleza. Eles se preocupam com questões dessa natureza porque sabem que contribuem para a evolução. Caso contrário, não são líderes.
Antes de ceifar pessoas em seus cargos, quantas chances são dadas não somente a elas, mas à própria empresa, para se adaptarem, se adequarem à cultura? Quais são os programas, as ações de integração promovidas pela empresa para que os funcionários desenvolvam e exercitem o trabalho em equipe? Quantos diamantes, verdadeiros talentos corporativos, são atirados neste rio chamado mercado de trabalho, para os concorrentes? Seria por falta de visão ou falta de orientação do gestor distraído com outros problemas até mesmo pessoais? E quanto à vida pessoal: como estamos administrando saúde, tempo, família, amigos? São tratados como diamantes valiosos ou são distrações insignificantes como as pedrinhas do pescador?
O Brasil historicamente enfrenta mudanças moderadas intercaladas por grandes mudanças periódicas – eventos que ocorrem algumas vezes a cada década, de acordo com Donald Sull e Martin Escobari, autores do livro “Sucesso made in Brasil – o segredo das empresas brasileiras que dão certo”. Eles acreditam que existem três atividades críticas para os líderes: manter a pressão, gerir ativamente a cultura e viver de acordo com um conjunto de valores que inclui paciência, capacidade de reconhecer o que não se sabe e capacidade de manter a calma enquanto os outros entram em pânico.
O segredo das empresas bem-sucedidas é que elas entenderam que a turbulência gera oportunidades, não só ameaças. Os relacionamentos em crise também são assim: os desentendimentos entre as pessoas tanto podem servir para ameaçar e romper o relacionamento, como para fortalecê-lo ainda mais, através das descobertas que cada um pode fazer a respeito de si, do outro e do próprio relacionamento.
Cada um tem seus valores e antes de atirar pedras no rio, devemos refletir sobre o que realmente estamos jogando fora. Quando a luz de entendimento vier, pode ser um pouco tarde para recuperar riquezas que não se compra com dinheiro, que estavam ali, alcançáveis: oportunidades de ouro, amizades, amores quase perfeitos...

Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga clínica e organizacional, graduada pela PUCCAMP, consultora de empresas, palestrante e escritora