CLISCIE E A CACHOEIRA

- Nunca vi uma cachoeira de perto – foi o que Cliscie nos confessou, com um sorriso maroto, ao saber que no dia seguinte, faríamos um treinamento comportamental outdoor numa região onde existem cerca de 50 quedas d água
O domingo amanheceu ensolarado, com uma temperatura muito baixa. O objetivo do grupo estava concentrado no arborismo, um circuito de obstáculos montado sobre cabos e cordas interligando copas de árvores majestosas onde a Criança Livre que existe dentro de cada um de nós, pode se resgatar. Cada passo exige coragem e vontade de abandonar barreiras e medos construídos ao longo dos anos. Crescemos e nos limitamos para sobreviver emocionalmente no mundo. Depois, pelas mesmas necessidades de sobrevivência emocional, partimos para o resgate da espontaneidade que tínhamos. A capacidade de pensar é colocada à prova, para calcular os passos de forma equilibrada para não cair. Autoprogramação é algo que fazemos todos os dias. Contudo, a 8 metros de altura é um pouco diferente. Tomar conta de si e gerenciar as emoções, senti-las visceral e corporalmente, foi o desafio que enfrentamos; após algumas copas, o medo deixou de existir. As atividades, monitoradas por profissionais experientes, misturavam aventura com superação interna. Chegamos até a cachoeira dos Coqueiros e Cliscie olhou-a encantada, apreciando a água cristalina que jorrava forte, escorregando pelo basalto e touceiras de avencas.
O Cascading, prática lúdico-esportiva que consiste em descer a cachoeira utilizando técnicas de rapel, era opcional para o grupo, por uma questão de respeito aos limites de cada um. Cliscie ficou em silêncio, olhou longamente para cima e saltitando, comunicou ao grupo que iria conhecer mais de perto aquela novidade. Depois de alguns minutos de instruções, lá estava ela, com os dois pés apoiados nas rochas, tête-à-tête com a água abundante, descendo a cachoeira como se fizesse isso todos os dias.
- Qual foi seu diálogo interno? Foi o que perguntei a ela, quando voltamos para a sala de treinamento, para compartilhar a vivência. Cliscie nos disse que relutou, brigou consigo e a parte que ganhou foi esta: você pode, você consegue, você é capaz, você não vai deixar passar esta oportunidade de fazer algo que você nunca fez.
Vejo pessoas na vida e nos escritórios desviando-se de desafios, como se fossem incômodos, os tais “pepinos” que ficam esperando por um milagre! Tudo depende de como reagir diante dos problemas, obstáculos, das coisas que nunca fizemos e que achamos que não sabemos fazer. Querer é o início de tudo. Buscar informações, dados, orientações, é também fundamental. Acreditar que haverá um resultado de aprendizagem, encarar os medos e se envolver de forma positiva, nas cachoeiras da vida, dependem de cada um de nós. Parabéns, Cliscie, pela sua coragem!

Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga clínica e organizacional, graduada pela PUCCAMP, consultora de empresas, palestrante e escritora