Chorar não é para os fracos

Lídia chora. Não aguenta a pressão no trabalho. Em silêncio, suas lágrimas nem mesmo têm permissão para rolarem pela face. São abordadas na fonte, pelas suas mãos trêmulas tentando conter as atrevidas que saltam de seus olhos. Dentro do banheiro, tenta se esconder, faz exercícios respiratórios para se recompor, tira da bolsa a maquiagem para retocar e pensa: “se alguém perceber que chorei, vai dizer que sou fraca”.

Assim como Lídia, há pelos corredores das empresas, pessoas disfarçando lágrimas ou debulhando-as quando pergunto olhando bem nos olhos delas: “o que há com você?”. Desconsertadas, pedem desculpas, como se fosse falta grave seres humanos se mostrarem humanos. No setting terapêutico, no ambiente de trabalho ou andando pelas ruas, percebo mudanças na forma como as pessoas lidam com seus sentimentos. Reflexos da era ponto com? Não sei.

Tudo bem que não se deve despencar a chorar por qualquer coisinha, mas chegar ao ponto de nem ao menos fazer conexão com os sentimentos, está levando um bocado de gente a desenvolver doenças psíquicas e psicossomáticas. A síndrome do pânico é a campeã, resultado de muita repressão de sentimentos que, desgovernados, explodem igual panela de pressão sem válvula.

Vamos deixar claro que as emoções são inerentes a todo ser humano. Impossível não senti-las. Não estabelecer contato com os sentimentos, negá-los, distorcê-los, é o atalho para o desequilíbrio. Algumas perguntas básicas ajudam a identificar a emoção: “O que estou sentindo agora? Um desconforto? Como surgiu isso? Em que situação?”.

Quando expressamos nossas emoções adequadamente, deixam de incomodar e nossa mente fica liberada para a atividade, a produtividade.

O poder e a habilidade de cada um em administrar suas emoções diante dos golpes da vida, nos torna fortes. Pessoas estruturadas se permitem sentir suas emoções sem receio do que os outros vão pensar. Pessoas corajosas assumem seus sentimentos para si e para quem quer que seja. E vale lembrar que homem que é homem, chora!

A expressão adequada da tristeza consiste em não ficar muito tempo no palco. Sem dramalhões mexicanos, sem extorsão de carícias, com o racional no comando da ação.

Frágil é o ser que não sabe o que sente e quando e por que. Perdido em si, exposto, vulnerável, de mãos atadas, não se desenvolve na leitura de sua própria trajetória emocional. Desvia-se do centro, de sua essência, de sua realidade interna e distancia-se de sua felicidade.
 

KÁTIA RICARDI DE ABREU é Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Membro Certificado Clínico pela ALAT e UNAT, proprietária da EGO CLÍNICA E CONSULTORIA LTDA. Atende em seu consultório crianças adolescentes, adultos, idosos, casais, famílias. Atua em empresas. É palestrante e escritora