ADOLESCENTE PONTO COM

O dia estava nublado, prometendo chuva e minha inquietude não permitia que eu ficasse deitada por muito tempo no sofá. Mexe aqui revira acolá, acabei encontrando no meu armário, que fazia muito tempo não recebia minha atenção de forma mais detalhada, o secular diário. Sim, aquele caderninho de páginas amareladas, que me acompanhou durante a adolescência, estava ali diante de mim; era o registro de uma parte da minha vida; o material tinha um prefácio e uma dedicatória, talvez ensaio de uma pequena aspirante a escritora.
Fiquei alguns minutos diante do meu diário, imaginando-me adolescente nos dias de hoje. Pouco mais de seis anos se passou desde o início da revolução World Wide Web, o tal www, que me permite saltar do laptop para o mundo, disseminando minhas idéias e buscando informações, deliciosamente organizadas e disponibilizadas pelo Google.
As novas tecnologias digitais de comunicação mudaram a cultura e o comportamento dos adolescentes, que hoje constroem relações em meio aos diversos artefatos da tecnologia, convivendo em comunidades on-line como forma de sociabilidade.
Em 2001, éramos 23 milhões de brasileiros (19% da população) usando a internet, e a estimativa mundial era de 513,41 milhões de usuários. O Brasil tem 20 milhões de pessoas que entram na internet de casa pelo menos uma vez por mês. O público que mais circula pela rede de relacionamentos do Google são as garotas de 12 a 17 anos, segundo as pesquisas. As adolescentes abrem 2.400 páginas por mês do Orkut de casa.
O secular diário de papel off line como o meu, está agora na internet e chama-se blog. As garotas internautas adolescentes pesquisadas nos Estados Unidos o preferem. A Pew Internet, instituto de pesquisa, detectou que meninas gostam de blogs e fotologs, enquanto meninos preferem usar vídeos e postá-los em sites como o YouTube. O e-mail, não é uma ferramenta de comunicação muito utilizada pelos adolescentes – apenas 14% enviam para os amigos todos os dias. Adolescentes que utilizam diversas formas de comunicação on line são apelidados de “multi-canais”. Embora não seja mais adolescente há muito tempo, sou uma multi-canal assumida, usuária intensa de toda a parafernália que me leva ao encontro das pessoas.
A comunicação passou por transformações assimiladas naturalmente pelas crianças e adolescentes. Os adultos procuram acompanhar, na medida do possível, abrindo os canais virtuais, nem sempre tão aceitáveis, para quem conheceu aquele outro mundo, antes do www ponto com. Tudo era muito diferente, mas nada impede que hoje, possamos desfrutar das vantagens que a tecnologia digital nos oferece e apenas o preconceito e a rigidez poderia impedir que o amor circulasse pelos canais existentes, sejam eles quais forem.

Kátia Ricardi de Abreu, Psicóloga clínica e organizacional, graduada pela PUCCAMP, consultora de empresas, palestrante e escritora